Os participantes do 15º Congresso Brasileiro da Indústria Gráfica (CONGRAF), realizado em Foz do Iguaçu no final do ano passado, puderam participar de uma enriquecedora reflexão sobre os rumos que o nosso setor vem cursando no País. Prova disso foi a mudança conceitual que marcou a concepção do evento, que pela primeira vez deixou as discussões de aspectos cotidianos um pouco de lado para olhar de forma mais abrangente as perspectivas de futuro para toda a cadeia da comunicação impressa.
A grade de palestras refletiu claramente essa inflexão na maneira de organizar o CONGRAF, que a partir desta edição certamente será lembrado como “summit” da Indústria Gráfica brasileira e, provavelmente, de toda a América Latina. No entanto, mais animador do que o conteúdo dessas excelentes apresentações, o que nos deixa otimistas e certos de que avançaremos muito são as conclusões a que chegamos ao fim do congresso.
Os fatos não podem ser negados, e é verdade que: (1) vivemos um momento de mudança paradigmática na comunicação; (2) nas economias maduras a retração da indústria gráfica é visível; (3) a indústria da comunicação eletrônica investe pesadas somas em campanhas de marketing para convencer o consumidor de que seus produtos são “limpos”, o que leva muitos a concluir, por exclusão, que a comunicação impressa é prejudicial ao meio ambiente.
O que vimos no CONGRAF é que podemos reverter cada um destes pontos se formos perspicazes e criativos. Portanto, não poderíamos deixar de lembrar que: (1) o surgimento de novas mídias não diminui a importância da comunicação impressa, que continua a ocupar a escala máxima no quesito credibilidade da informação. É nossa tarefa descobrir como explorar essa característica, sempre tendo em vista que não há outra saída a não ser coexistir com as diferentes mídias.
(2) Se nos EUA e na Europa a indústria gráfica vem passando por um processo de retração, no Brasil e em outros países emergentes o cenário será, por muito tempo, de crescimento. Vale destacar que, nesses mercados, a renda da população está em crescimento e o déficit educacional ainda é elevado. Na medida em que este segundo cenário começa a ser revertido, a superação do analfabetismo funcional, somada a uma maior disponibilidade de recursos financeiros, tende a elevar o consumo de bens editoriais como livros, revista e jornais. Ou seja, ainda há um vasto espaço de crescimento para a nossa indústria nestes segmentos.
Por fim (3) é nossa obrigação melhorar a comunicação com os consumidores e a sociedade como um todo, no sentido de mostrar que não causamos danos ao meio ambiente mais do que a indústria da tecnologia da informação. Pelo contrário, nosso principal insumo, o papel, é um bem facilmente reciclável e proveniente de uma atividade altamente sustentável, o manejo de florestas. Por outro lado, fica cada vez mais claro que o verdadeiro problema ecológico de nosso tempo é como dar fim às toneladas de lixo tecnológico descartadas diariamente em todo o planeta.
Tudo isso não teria importância, no entanto, se não fôssemos capazes, enquanto indústria, de nos unir em torno de objetivos em comum. O que o último CONGRAF provou foi exatamente a capacidade de mobilização do nosso setor. A Carta de Foz do Iguaçu, lançada ao fim do Congresso, é o exemplo mais cristalino dessa característica. O documento, que procura mostrar como a indústria gráfica brasileira pode contribuir para o desenvolvimento do Brasil, foi assinado por todos os presidentes regionais da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF) presentes na cidade paranaense. E sem essa coesão, não seremos capazes de transformar essas ameaças em oportunidades para todo o setor.
Reinaldo Espinosa, empresário gráfico, presidente da ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica).